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9 de set. de 2012

Do deserto das dunas cearenses para as montanhas geladas do mundo!

Reportagem encartada no Diário do Nordeste de hoje
Na aventura radical deste domingo vamos acompanhar a saga dos meninos de areia que recentemente representaram o Ceará eo Brasil no XVIII Campeonato Brasileiro de Snowboard, um marco histórico para o esporte cearense. Entenda como um sonho que parecia impossível aos poucos tem se tornado realidade e mudado, dá água pro vinho, ou melhor, do calor para o frio, a vida de muitos cearenses que hoje são amantes da neve.
 Saído do calor escaldante das dunasdesérticas da Praia da Sabiaguaba para conquistar a glória no topo de montanhasgeladas, Esdras Tikinho sempre teve um sonho: se tornar atleta profissional desnowboard. Sonho este que ele vem alcançando dia após dia, subindo degraus do esporte tão rápido quanto um de seus vertiginosos saltos.
Como ele mesmo nos explicou, nunca pensou em ser jogador de futebol, mas queria muito ser sandboarder profissional.
Aos poucos e com muito esforço edeterminação, Esdras conquistou os degraus mais altos do esporte, tornando-se Campeão Cearense e depois Brasileiro de Sandboard. Mas, enquanto ele consolidava seu nome no sandboard, outro sonho começava a ser alimentado, mas esse, bem mais difícil de ser concretizado: o de se tornar snowboarder profissional.

“Quando o sandboard começou a ficar sério, eu e meus amigos buscávamos inspiração nas manobras dos snowboarders vendo vídeos e fotos”, explicou Esdras, falando como nasceu o sonho de deslizarna neve.
No início parecia um sonho muito distante, mas tudo começou a mudar depois do dia em que ele participou  e ganhou uma competição de snowboard em pista artificial. A partir daí, aquilo que parecia impossível começou a tomar corpo e virar uma possibilidade real. Depois desse dia, ter um contato com a neve passou a ser sua obsessão. O tempo todo ele pensava como poderia fazer com que isso acontecesse. Passou a pesquisar lugares, equipamentos, preços de passagens, fez contatos com atletas através das redes sociais até que finalmente, depois de muita batalha, conseguiu fazer uma viagem para Chapelco na Argentina.
“O primeiro contato que tive com a nevefoi tão intenso que é difícil até de descrever. Era tanta alegria, tantafelicidade que eu quase não me continha. Passei tantos dias da minha vidasonhando com aquele momento que não podia acreditar que aquilo era verdade. Aficha só veio cair depois de mais de uma semana”, declarou Esdras. Ele tambémnos conta que sua adaptação foi quase que instantânea: “Era como se eu játivesse feito aquilo antes, apesar da velocidade na neve ser bem maior que naareia”, completou.
Entretanto, entre o sonho de praticar snowboard e se tornar um atleta profissional existia mais um abismo que esse guerreiro também precisaria superar.
E o primeiro passo nessa direção veio no início deste ano, em uma viagem para o Principado de Andorra, na Europa. Lá, Esdras pôde aprimorar sua técnica e se preparar para o maior desafio de sua vida: participar do Campeonato Brasileiro de Snowboard.
O tão esperado evento foi realizado no Valle Nevado, Chile, no mês passado e Esdras conquistou o inacreditável título de Vice-Campeão Brasileiro de Snowboard, categoria Slopestyle, competindo com muitos atletas que já têm dezenas de temporadas em estações de esqui no currículo. Uma façanha! Um feito verdadeiramente espetacular!
“Assim que eu e meu companheiro nessa viagem, Willame Oliveira (CE), chegamos no Valle Nevado fomos direto praticar. Passamos o dia inteiro treinando intensivamente. Não tínhamos alternativa, precisávamos treinar o máximo possível para nos adaptar, afinal de contas, era apenas a minha terceira experiência na neve e a primeira de Willame”, comentou Esdras.
Segundo o atleta nos explicou acompetição foi de alto nível. As condições estavam ideais já que tinha passado três dias nevando. Sem falar que os competidores estavam acertando manobras muito técnicas, exigindo o máximo de concentração.
Contudo, Willame Oliveira, seu parceiro de viagem, não teve a mesma sorte de Esdras em seu primeiro contato com a neve. Durante os treinos ele lesionou seriamente o tornozelo direito e para completar seu infortúnio, logo após o acidente o campeonato teve início.
“Ele não tinha a mínima condição de competir. Foi um momento bem difícil”, declarou Esdras, que dali em diante estaria sozinho e teria de dar o melhor de si para que o sofrimento do amigo não fosse em vão. E ele explica que não foi fácil manter a concentração, pois, só de imaginar o sofrimento do amigo com o tornozelo quebrado já fazia a sua adrenalina subir.
“Imagine você na minha situação, tendo de conseguir um bom resultado e ao mesmo tempo tendo de me manter inteiro, pois, se eu me lesionasse também, a situação que já era crítica ficaria ainda pior. Foram momentos muito angustiantes”, relatou.
Para conseguir manter o foco Esdras nos conta que imaginava que aquela enorme montanha era a maior, mais lisa e mais perfeita duna de sua vida. E a estratégia funcionou. Com esse pensamento ele se preparou para entrar em cena. A disputa se resumia em duas voltas valendo a melhor.
Na primeira tentativa Esdras calculou mal e acabou tomando um capote e machucando a mão. Na segunda volta e tendo de se superar mais uma vez, Esdras, que acabara de ver seu amigo e parceiro se machucando seriamente, levantou a cabeça e arriscou ainda mais. Saiu com um 360º, emendou em seguida com um arriscado Back-Flip Method, finalizando com um Japhan Air muito alto, enfatizando que estava voando muito mais que 15m: “Foi o voo mais longo de toda a minha vida”, afirmou. Essa volta garantiu o vice-campeonato e o histórico pódio para o esporte cearense.
“Surpreendi toda a galera com os meus voos tirados do sandboard! Eles não acreditavam. Os proprios juízes vinham falar comigo e me parabenizar. Perguntavam em que estação de esqui eu morava etc… Alguns atletas que respeito muito me parabenizaram e falaram que não tinham coragem de mandar um Back-Flip daqueles que fiz. Fiquei muito satisfeito e orgulhoso de ter conquistado esse vice-campeonato, que pra mim foi uma vitória. Eu sempre acreditei em mim, que tudo daria certo. Mas, a emoção que senti ao subir naquele pódio eu nunca poderia sonhar”, declarou Esdras emocionado.
Mesmo tendo provado que pode competirem alto rendimento, a batalha de Esdras Tikinho até se tornar um Snowboarder Profissional está apenas começando. Ele ainda precisa ser reconhecido pela Federação Internacional de Ski para poder participar de eventos profissionais e assim, poder lutar pela sonhada vaga nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, que serão realizados em Sochi, na Rússia.

INSPIRANDO UMA GERAÇÃO
Durante a produção dessa reportagem pudemos ver como Esdras Tikinho tem se tornado uma referência para toda uma geração de sandboarders. Suas conquistas estão inspirando muitos garotos que agora também passam o dia no calor escaldante das dunas cearenses enquanto a noite sonham com as gélidas montanhas nevadas. Como é o caso de Netinho Mendes e João Ferinha, ambos, amigos e fãs de Tikinho, que estavam com ele treinando para um torneio internacional de sandboard que irão participar no mês de novembro nas dunas mais altas do mundo, localizadas no Peru:

“Para nós o Esdras é um verdadeiro herói. Pode acreditar. Ele está mostrando que o impossível não existe e está contagiando todo mundo com esse sentimento. É como se depois da conquista dele no Brasileiro de Snowboard, qualquer outro objetivo pode ser atingido. Só vai depender do quanto você está disposto a se dedicar para realizar seu sonho”, declarou João Ferinha.
Já para Netinho Mendes, além de tudoisso, ele enxerga um novo horizonte a partir da profissionalização de atletas cearenses no snowboard:
“O Esdras é nosso ídolo por ter aberto novas portas para todos nós. Os campeonatos de snowboard pagam boas premiações, tudo o que todo atleta profissional precisa para poder se dedicar integralmente ao esporte”, finalizou.

SAIBA MAIS
A partir desse intercâmbio entre esportes o sandboard também tem ganhado muito. Hoje, as pranchas usadas na areia são adaptadas com as mesmas botas e presilhas que usadas na neve.
E não é só o sandboard que serve de base para o snowboard. À medida que os cearenses vão se familiarizando com as técnicas vindas das montanhas nevadas isso acaba se refletido diretamente na performance nas dunas, afinal de contas, é lá que todos treinam, inclusive o Esdras.
Com isso, o sandboard tem evoluído à passos largos e está cada vez mais seguro e radical.

LINK ORIGINAL PARA A MATÉRIA DO JORNAL:
Navegue pelo blog Manobra Radical e saiba mais sobre o sandboard e o snowboard cearense

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